O
bairro Vila Japão, localizado entre a rodovia Alberto Hinoto (antiga Estrada de
Santa Isabel) e a rodovia Ayrton Senna, tem sua origem na década de 1920, no antigo bairro do Corredor.
No
ano de 1925 o Sítio Corredor, herdado
de José Antonio de Almeida e sua mulher, foi vendido por escritura pública,
datada de 8 de julho, pela quantia de 59:474$850, quase sessenta contos de réis.
Os vendedores: Salvador Leite de Camargo e sua mulher, Antonio José de Almeida,
Maria José de Almeida, Claudino José de Almeida, Bendito José de Almeida e
Elyseu Rodrigues de Oliveira; com exceção dos dois últimos, moradores de Santa
Isabel, os demais residiam no distrito de Itaquaquecetuba. Os compradores eram
Sebastião Corain e Joaquim Gonçalves Ramos Filho. A área total do Sítio
Corredor era de 396.499 m². Na descrição das divisas está o ribeirão do Una,
terras de Klabin e Irmãos, além de que o imóvel era atravessado pela estrada de
Santa Isabel, recém aberta pelo governo do estado.
Itaquaquecetuba Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB) |
Tomamos conhecimento do loteamento
de parte da área por meio de uma carta, com data de 20 de maio, de Margaret
Dyer Townsend ao seu marido, o cientista estadunidense Charles H. T. Townsend
(estou escrevendo um artigo sobre o cientista), escrita aproximada entre 1925 e
1926:
“O Sr. Corain vendeu todos os lotes da terra que
comprou do outro lado da loja a 2$000 por metro. Vendeu quase todos aos
japoneses e eles têm uma grande placa "Villa Japon". Ele trouxe um
monte deles aqui no domingo para nadar. Um grupo bem vestido. As crianças
disseram que um deles tinha uma ferida no coração, recentemente curada - um
grande corte! Talvez possamos arranjar-lhes um bom cozinheiro japonês quando
tivermos um monte de coisas boas para cozinhar.
Segundo consta, todo os camaradas do Sr. Corain o
deixou exceto um - não se sentem seguros do seu dinheiro. Ele pagou no domingo
passado, pela primeira vez em três meses. Antonio Hernandez tinha trabalhado lá
primeiro para ele e recebeu o seu primeiro dinheiro no domingo passado. Penso
que ele deve conseguir assim manter os seus homens, pois certamente uma Companhia
como essa deve ter dinheiro.”
A
família Townsend conhecia Sebastião Corain. A informação sobre a insegurança
dos investidores indica um problema que ocorrerá em seguida. Apesar da venda
dos lotes para famílias japonesas, origem do nome do bairro Vila Japão, houve
atraso no pagamento das parcelas. Em 1929 os vendedores entraram com ação judicial
por não terem recebido todas as parcelas do negócio, previsto para ser pago em
5 parcelas semestrais. Declararam ter recebido a primeira parcela de dez contos
de réis e parte da segunda.
Sebastião Corain e Joaquim
Gonçalves nomearam, por meio de procuração, Hermenegildo Rodrigues Pereira “para a venda do imovel hypothecado, todo
loteado e arruado, com a denominação de ‘Villa Japão’, podendo assignar as
escripturas dos lotes vendidos, receber dinheiro e dar quitação aos compradores”.
Considerando os pagamentos o juiz excluiu a área de 165.019 m², penhorando
231.480 m².
Sebastião Corain nasceu em 1899,
era filho de um rico industrial estabelecido na cidade de São Paulo. Aos 15
anos, num anúncio ofereceu-se para trabalhar, declarando ter prática em
escritório, falar inglês e conhecer um pouco de italiano e francês. Aos 18 anos
viajou para os Estados Unidos, onde tirou diploma de piloto de avião. Em 1954 o
engenheiro Sebastião Corain aparece nas páginas dos jornais com um remédio para
a cura do câncer; mas o pó preto era apenas carvão, sem nenhum efeito no
tratamento do câncer.
Nas plantas arquivadas na
Prefeitura de Itaquaquecetuba, há o loteamento Vila Japão, sem data, propriedade
da empresa Chácaras União (na capa da pasta 102 consta: loteamento não
aprovado); que se estendia até a atual Rua Rio Tietê (hoje bairro Jardim Nova
Itaquá), que começa em frente ao Hospital Santa Marcelina, identificada na
planta como rua F e Estrada Velha. Esse traçado é o da antiga Estrada de Jacareí,
aberta em 1845, que começava em Itaquaquecetuba. Ou seja, na Rua Rio Tietê, era
o início da antiga estrada de Jacareí, que emendava com a estrada de São Bento.
Na mesma planta não tem a ferrovia, o ramal Variante de Parateí, que só foi
construído na década de 1940, ligando Itaquaquecetuba a São José dos Campos.
Vila Japão (1945) - Estrada de Santa Isabel. Construção do Ramal Variante de Parateí (Aroldo de Azevedo) |
Outra planta, sem data, trata do
desmembramento e loteamento de parte da Vila Japão, propriedade de Ernesto
Perpétuo, com área de 83.759 m².
A terceira planta com o nome Conjunto
Habitacional Jardim Japão é de 1985. Localizado entre as Ruas São Miguel, São Roque, São Judas
Tadeu e o ribeirão Una; com área total de 19.121 m².
Fachada Residencial - Conjunto Habitacional Jardim Japão (1985) |
Por fim, nos processos de
desapropriação para a construção do Rodoanel Leste, um deles, de 2012, se
refere a Sebastião Corain e Júlia Corain “objetivando a desapropriação de uma
área de 157,29m², situada na Rua São Miguel, nº 195, Vila Japão,
Itaquaquecetuba/ SP”.
Cláudio Sousa
Bibliografia
Carta de Margaret Dyer Townsend
(incompleta, faltam as duas páginas iniciais), 20 de maio (Tradução Enedina S. Guimarães), Acervo Angelo Guglielmo
Correio Paulistano 15/10/1929
DJSP 19/12/2016
Prefeitura Municipal de
Itaquaquecetuba – Secretaria de Planejamento
Nenhum comentário:
Postar um comentário