terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Gentil de Moraes Passos: 100 anos


Gentil de Moraes Passos foi o quarto prefeito de Itaquaquecetuba. Nasceu em Itaquaquecetuba no dia 13 de fevereiro de 1915. Uma nota de jornal menciona que o casal João Baptista dos Passos e Josefina Maria de Moraes "têm o seu lar em festa com o nascimento de seu primogenito, um galante menino que foi registrado com o nome de Gentil"(Correio Paulistano 23/02/1915). Gentil foi batizado em 3 de maio do mesmo ano, como filho natural de Josefina Maria de Moraes; na margem direita do registro foi anotado "Pae = João Baptista dos Passos = recebido Civilmente". O matrimônio entre João Baptista dos Passos e Josefina Maria de Moraes ocorreu em 18 de março de 1916, na Igreja Matriz.

Gentil, por volta de 1920
(Acervo Gerson Rodrigues dos Passos)
Gerson Rodrigues dos Passos conserva uma fotografia de seu pai Gentil na infância, uma criança com cabelos encaracolados, calçando botinhas, tendo ao lado um chapéu com uma fita escrito Brazil, sobre um móvel em que apoia a mão direita, sendo o fundo uma paisagem pintada. A foto foi tirada num estúdio fotográfico por volta de 1920.
Os pais de Gentil eram naturais de Itaquaquecetuba, sua mãe Josefina Maria de Moraes, nascida em 1897, era filha de João Pedro de Moraes e Guilhermina Maria da Conceição. Pelo lado paterno, seu pai João Baptista dos Passos foi funcionário do cemitério do Brás. 

Gentil era neto de Maria Josefina dos Passos, uma pessoa influente no então distrito de Itaquaquecetuba; falecida em 22 de maio de 1928, com direito a obituário no jornal e oração fúnebre proferida pelo jornalista Armando Velloso, correspondente do jornal do Correio Paulistano. Nesta época, com 13 anos, Gentil era aluno da Escola Profissional Masculina do Brás, uma das poucas escolas a oferecer ensino técnico profissionalizante. Enquanto que a maioria dos seus contemporâneos, no máximo cursou a escola primária. Teria ainda cursado desenho arquitetônico no Liceu de Artes e Ofício (Diário Oficial 28/03/1985).

Gentil com o capacete, 1976
Em 1932, contando com 17 anos, Gentil de Moraes Passos se apresentou como voluntário para o combate. Membro da Sociedade dos Veteranos de 1932 participou de vários desfiles no dia 9 de julho, no Parque do Ibirapuera, ostentando uniforme e o capacete de aço, com o qual combateu no "Movimento Constitucionalista de 1932". 

Numa solicitação encaminhada ao DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), em 1949, a fim de obter Atestado de Antecedentes Político-Sociais, Gentil declarou como profissão: construtor (anos depois foi corretor imobiliário). A sua folha corrida registra que foi indiciado entre 1937 e 1948, em quatro inquéritos policiais, entre eles, um na delegacia de falsificações, não tendo nenhuma condenação, sendo emitido o atestado com o "nada consta".
Câmara Municipal de Itaquaquecetuba
Sobre a carreira política de Gentil de Moraes Passos, ele é citado num relatório do serviço secreto do Dops de janeiro de 1958, como uma das pessoas de maior prestígio junto ao eleitorado do PSD, ao lado do prefeito Eugênio Vitório Deliberato, não pelo prestígio da legenda, mas pelo fator pessoal. O que ainda caracteriza a política local nos tempos atuais. O relatório faz menção da possibilidade de quatro candidaturas a prefeito na eleição de outubro daquele ano, Gentil é visto como o "mais prestigioso". O eleito foi Domingos Milano. Na eleição de 1962, disputada por seis candidatos, Gentil foi o candidato do PSD, sendo vencida por Eugênio Vitório Deliberato, para um novo mandato de prefeito, agora pelo PDC. Com o Golpe Militar de 1964 e a extinção do PSD, em 1965, Gentil vai para a Arena, partido de sustentação do governo militar; sendo o MDB o partido de oposição . Eleito prefeito pela Arena, Gentil governou Itaquaquecetuba entre 1967 e 1970. Durante a campanha e na posse acusa o ex-colega de partido Eugêncio V. Deliberato, de fazer negociatas a portas fechadas.

Apesar da antiguidade, Itaquaquecetuba tinha uma infraestrutura muito precária. Entre a emancipação e 1970, as várias administração procuraram melhorar a infraestrutura local. A eletricidade foi uma delas; o escritório local da Light foi instalado em 1967. No aniversário da cidade, as residências atendidas com a instalação de luz domiciliar eram 1364, abrangendo 156 ruas do perímetro urbano. Entre os bairros atendidos estavam Vila Maria Augusta, Monte Belo, Aracaré, Ítalo Adami, Nova Itaquá, Vila São Carlos, Jardim Odete e Estação. Neste ano, as ruas do centro começaram a receber asfalto e "a própria Prefeitura está fabricando guias e sarjetas, bem como lajotas para calçamento" (A Gazeta Esportiva 8/09/1967).
Inauguração do Coreto, 1969
Em 7 de setembro de 1969 foi apresentada e hasteada a Bandeira do Município; no brasão um índio e um jesuíta, num fundo branco com listas vermelhas e pretas, inspirada na bandeira do estado de São Paulo. A ideia foi de Gentil de Moraes Passos, torcedor são-paulino. Na solenidade oficial foi inaugurado o coreto da Praça Padre João Alvares (antigo Largo da Matriz). As festividades contaram com um desfile que teve a apresentação da Fanfarra do Ginásio Estadual, carros alegóricos, clubes esportivos, escoteiros, folclore e a Bandeira do Município. No campo do Bandeirantes A. C., o time local jogou contra o time juvenil do São Paulo F.C. O programa prosseguiu no dia 8 com a inauguração do cemitério Caminho do Céu, competição de pedestrianismo (corrida) e ciclismo, procissão religiosa e, à noite no Coreto, a Colônia Japonesa "apresentou uma esplendorosa sequência de danças folclóricas orientais" (Revista Histórica nº 2, julho 1978).

Outra medida do prefeito Gentil de Moraes Passos foi a mudança dos nomes das ruas na maioria dos bairros do município. A Vila Maria Augusta, um dos bairros urbanos mais antigos de Itaquaquecetuba, cujas ruas tinham os seguintes nomes: Ana Seixas, Maria Aparecida, Maria de Lourdes, Maria Lucia, João Henares, Maria Angelina, Maria Antonieta, Gouveia Horta, Maria Eliza, Maria do Carmo, Maria Ruth e Dona Helena, foram renomeadas para: Vital Brasil, Pedro Américo, José Bonifácio de Andrade e Silva, Padre Anchieta, Joaquim Nabuco, Castro Alves, Carlos Gomes, Santos Dumont, José de Alencar, Visconde de Cairú e Afrânio Peixoto.

Cemitério Central (Acervo: Cláudio Sousa)
Gentil de Moraes Passos faleceu em 31 de dezembro de 1980, sendo sepultado no Cemitério Central da cidade onde nasceu. Foi homenageado através da Lei nº 4.674, de 6 de setembro de 1985, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo:
Artigo 1º - Passa a denominar-se "Prefeito Gentil de Moraes Passos" a Escola Estadual de 1º Grau do Bairro da Pedreira, em Itaquaquecetuba.
Cláudio Sousa