terça-feira, 8 de setembro de 2020

Vila Japão

O bairro Vila Japão, localizado entre a rodovia Alberto Hinoto (antiga Estrada de Santa Isabel) e a rodovia Ayrton Senna, tem sua origem na década de 1920, no antigo bairro do Corredor.

No ano de 1925 o Sítio Corredor, herdado de José Antonio de Almeida e sua mulher, foi vendido por escritura pública, datada de 8 de julho, pela quantia de 59:474$850, quase sessenta contos de réis. Os vendedores: Salvador Leite de Camargo e sua mulher, Antonio José de Almeida, Maria José de Almeida, Claudino José de Almeida, Bendito José de Almeida e Elyseu Rodrigues de Oliveira; com exceção dos dois últimos, moradores de Santa Isabel, os demais residiam no distrito de Itaquaquecetuba. Os compradores eram Sebastião Corain e Joaquim Gonçalves Ramos Filho. A área total do Sítio Corredor era de 396.499 m². Na descrição das divisas está o ribeirão do Una, terras de Klabin e Irmãos, além de que o imóvel era atravessado pela estrada de Santa Isabel, recém aberta pelo governo do estado.

Itaquaquecetuba Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB)

Tomamos conhecimento do loteamento de parte da área por meio de uma carta, com data de 20 de maio, de Margaret Dyer Townsend ao seu marido, o cientista estadunidense Charles H. T. Townsend (estou escrevendo um artigo sobre o cientista), escrita aproximada entre 1925 e 1926:

“O Sr. Corain vendeu todos os lotes da terra que comprou do outro lado da loja a 2$000 por metro. Vendeu quase todos aos japoneses e eles têm uma grande placa "Villa Japon". Ele trouxe um monte deles aqui no domingo para nadar. Um grupo bem vestido. As crianças disseram que um deles tinha uma ferida no coração, recentemente curada - um grande corte! Talvez possamos arranjar-lhes um bom cozinheiro japonês quando tivermos um monte de coisas boas para cozinhar.

Segundo consta, todo os camaradas do Sr. Corain o deixou exceto um - não se sentem seguros do seu dinheiro. Ele pagou no domingo passado, pela primeira vez em três meses. Antonio Hernandez tinha trabalhado lá primeiro para ele e recebeu o seu primeiro dinheiro no domingo passado. Penso que ele deve conseguir assim manter os seus homens, pois certamente uma Companhia como essa deve ter dinheiro.”

A família Townsend conhecia Sebastião Corain. A informação sobre a insegurança dos investidores indica um problema que ocorrerá em seguida. Apesar da venda dos lotes para famílias japonesas, origem do nome do bairro Vila Japão, houve atraso no pagamento das parcelas. Em 1929 os vendedores entraram com ação judicial por não terem recebido todas as parcelas do negócio, previsto para ser pago em 5 parcelas semestrais. Declararam ter recebido a primeira parcela de dez contos de réis e parte da segunda.

Sebastião Corain e Joaquim Gonçalves nomearam, por meio de procuração, Hermenegildo Rodrigues Pereira “para a venda do imovel hypothecado, todo loteado e arruado, com a denominação de ‘Villa Japão’, podendo assignar as escripturas dos lotes vendidos, receber dinheiro e dar quitação aos compradores”. Considerando os pagamentos o juiz excluiu a área de 165.019 m², penhorando 231.480 m².

Sebastião Corain nasceu em 1899, era filho de um rico industrial estabelecido na cidade de São Paulo. Aos 15 anos, num anúncio ofereceu-se para trabalhar, declarando ter prática em escritório, falar inglês e conhecer um pouco de italiano e francês. Aos 18 anos viajou para os Estados Unidos, onde tirou diploma de piloto de avião. Em 1954 o engenheiro Sebastião Corain aparece nas páginas dos jornais com um remédio para a cura do câncer; mas o pó preto era apenas carvão, sem nenhum efeito no tratamento do câncer.

Nas plantas arquivadas na Prefeitura de Itaquaquecetuba, há o loteamento Vila Japão, sem data, propriedade da empresa Chácaras União (na capa da pasta 102 consta: loteamento não aprovado); que se estendia até a atual Rua Rio Tietê (hoje bairro Jardim Nova Itaquá), que começa em frente ao Hospital Santa Marcelina, identificada na planta como rua F e Estrada Velha. Esse traçado é o da antiga Estrada de Jacareí, aberta em 1845, que começava em Itaquaquecetuba. Ou seja, na Rua Rio Tietê, era o início da antiga estrada de Jacareí, que emendava com a estrada de São Bento. Na mesma planta não tem a ferrovia, o ramal Variante de Parateí, que só foi construído na década de 1940, ligando Itaquaquecetuba a São José dos Campos.

Vila Japão (1945) - Estrada de Santa Isabel. Construção
do Ramal Variante de Parateí (Aroldo de Azevedo)

Outra planta, sem data, trata do desmembramento e loteamento de parte da Vila Japão, propriedade de Ernesto Perpétuo, com área de 83.759 m².

A terceira planta com o nome Conjunto Habitacional Jardim Japão é de 1985. Localizado entre as Ruas São Miguel, São Roque, São Judas Tadeu e o ribeirão Una; com área total de 19.121 m². Propriedade da empresa FAT – Comércio e Construções Ltda.

Fachada Residencial - Conjunto Habitacional
Jardim Japão (1985)

Por fim, nos processos de desapropriação para a construção do Rodoanel Leste, um deles, de 2012, se refere a Sebastião Corain e Júlia Corain “objetivando a desapropriação de uma área de 157,29m², situada na Rua São Miguel, nº 195, Vila Japão, Itaquaquecetuba/ SP”.

Cláudio Sousa

Bibliografia

Carta de Margaret Dyer Townsend (incompleta, faltam as duas páginas iniciais), 20 de maio (Tradução Enedina S. Guimarães), Acervo Angelo Guglielmo

Correio Paulistano 15/10/1929

DJSP 19/12/2016

Prefeitura Municipal de Itaquaquecetuba – Secretaria de Planejamento